Fora de mim

Olá, dragões!

No mês de fevereiro, o tema que escolhemos foi: aquele livro que está parado há bastante tempo e que temos que ler pra ontem! Dentre os que eu tinha de opção, a Pâm escolheu Fora de mim. Vamos ver o que achei da obra?

O projeto Uma amiga indicou é formado por mim, pela minha xará Carol (A Colecionadora de Histórias), a Ale (Estante da Ale) a Priih (Infinitas Vidas) e a Pâm (Interrupted Dreamer). Todo mês escolhemos um tema, seja filme, série ou livro para indicarmos e conferirmos em conjunto.

Título: Fora de mim
Título Original: Out of my mind
Autora: Sharon M. Draper
Editora: V&R
Ano: 2014
Páginas: 208
Tradução: Lavínia Fávero
Livro: Skoob
Sinopse:
A maioria das pessoas não se dá conta do poder das palavras. Para Melody Brooks, elas são como pequenos tesouros. Melody tem paralisia cerebral: não pode andar, não pode ir ao banheiro ou se alimentar sozinha, nunca disse uma palavra... e ela tem quase onze anos. Os médicos foram categóricos e disseram que Melody seria um fardo, mas seus pais sabiam do potencial da filha. Bastava apenas querer enxergar. Melody tem memória fotográfica, um rico vocabulário e uma sensível percepção da vida. Talvez seja a menina mais inteligente de sua escola. Mas quase ninguém consegue percebê-la. Não sabem que ela consegue ouvi-los, entendê-los e que tem muito a dizer. Melody quer tocar o mundo. Romper com os limites aparentemente intransponíveis impostos por seu corpo. Determinada, ela vai encontrar uma forma de mostrar que pode ir além e surpreenderá a todos

Melody é uma garota alegre que tem muito a dizer, mas não pode por conta de sua paralisia cerebral. Ela nascera assim, portanto nunca tivera como se comunicar e mostrar como era inteligente para as demais pessoas. Seus pais sempre souberam, pelo seu olhar e seus gestos limitados, o quanto ela era mentalmente capacitada, mas os médicos os contradiziam: Melody sofria de um profundo retardo. Ela não tinha controle sobre seus movimentos, precisando ficar sempre presa à cadeira de rodas, e necessitando de cuidados especiais. Seus pais se desdobravam entre o trabalho e tomar conta de Melody, evitando que ela caísse, se engasgasse, babasse, a levando ao banheiro, tomar banho, e a carregando para todos os cantos.

E o que Melody mais odiava era sua incapacidade de reproduzir tudo o que estava passando pela sua cabeça. Sua falta de movimento físico e da fala produziam a impressão de que ela não compreendia nada do que estivesse acontecendo ao seu redor, mas a verdade era outra. Melody era dotada de uma inteligência extraordinária. Ela conseguia lembrar de absolutamente tudo o que vira na televisão, todos os mínimos detalhes e até mesmo desnecessários, e não poder expressar suas opiniões ou apenas conversar era o que mais a frustrava.


Todo mundo usa palavras para se expressar. Menos eu. E aposto que a maioria nem se dá conta do poder que as palavras têm. Mas eu me dou.


Junto de sua cadeira de rodas, havia um painel com algumas palavras, as mais comumente usadas por ela, e Melody apontava para essas palavras estratégicas quando lhe faziam alguma pergunta ou quando quisesse pedir algo aos pais. Ainda assim, nem sempre era uma tarefa fácil. A dimensão de seus pensamentos não se comparava à pouca quantidade de opções que haviam no painel, e muitas vezes Melody se estressava, esperneando e gritando.

Nos primeiros anos de escola, Melody fez parte do grupo de alunos especiais. Nenhum deles possuía a mesma deficiência que a sua, mas todos de alguma forma mereciam o tratamento diferencial. Melody não reclamava, mas também não aprendia nem 1% do que aprendia em casa mesmo, assistindo documentários na televisão. Custou para um professor compreender o que mais agradava a cada aluno, quais suas restrições e seus níveis intelectuais, e quando isso acontece, eles passam a ter algumas aulas em conjunto com os demais alunos, considerados “normais”.


- Eu sei o nome da doença dela, doutor - declarou minha mãe, com frieza. - Mas uma pessoa é muito mais que um diagnóstico escrito num prontuário.


Um dia, uma garota aparece com um notebook, e Melody tem uma ideia genial, lembrando de Stephen Hawking. Ela precisa de um computador onde ela possa digitar e o som das palavras sair através dele. Seus pais logo aprovam a ideia e providenciam o aparelho que muda a vida de Melody por completo.

É durante as aulas em grupo que Melody participa de um teste de conhecimentos gerais e é escolhida para fazer parte da equipe do colégio, e assim junto de mais quatro alunos irá representar a escola numa olimpíada. O orgulho dos pais e de sua cuidadora, Catherine, é imenso, e Melody une forças para enfrentar a platéia, os julgamentos e o próprio nervosismo, e mostrar do que é capaz.


Encontrei esse livro no estande da V&R editora durante a Bienal por um preço maravilhoso e a sinopse me atraiu logo de cara. Sabia que seria necessário o momento propício pra leitura, pra poder absorver tudo o que ela tinha a transmitir, e o timing foi perfeito, porque não só me envolvi profundamente com a história de Melody, como devorei o livro num dia só.

Como podemos perceber, a vida de Melody não é fácil. Seus pais são grandes heróis por todo o esforço e dedicação contínua. Melody retrata em primeira pessoa o quanto gostaria de se comunicar e realizar tarefas triviais, e isso toca muito o leitor. Nos faz lembrar de que devemos agradecer diariamente por termos saúde, família e um lar.


- Todas as crianças são especiais - retrucou a sra. V., cheia de autoridade. - Mas esta aqui tem superpoderes escondidos. Eu adoraria ajudar vocês a encontrá-los.


E apesar de todas as suas dificuldades, enxergamos claramente que o maior problema, no fim, não é a paralisia cerebral em si, e sim o pré-conceito das pessoas, o famoso julgar sem antes tentar conhecer e se aproximar. A autora traz uma narrativa leve e até mesmo animada, mas é muito triste ver o quanto as pessoas se afastam de Melody somente por ela ser diferente. E mais: Não acreditam em seu potencial, muito menos na sua inteligência.

Melody e as outras crianças tem apenas onze anos, portanto é natural haver dúvidas e inclusive curiosidade a respeito de sua condição, mas os adultos agirem feito babacas é a pior parte e a que definitivamente não há justificativas. E o mais triste ainda é pensar que muitos deficientes sofrem esse tipo de julgamento com frequência.


Na sala H-5, a gente teve um monte de professores. E nem sei dizer quantos cuidadores. Essas pessoas fazem coisas como nos levar ao banheiro, dar comida na boca na hora do almoço, empurrar nossas cadeiras de rodas até onde a gente queria ir e dar abraços. Acho que eles não são muito bem pagos, porque nunca ficam muito tempo. Mas deveriam ganhar um milhão de dólares. O que eles fazem é muito difícil, de verdade, e acho que a maioria das pessoas não entende isso.


Na escola onde estudei eu tinha um amigo cadeirante que também tinha dificuldades com a fala e em se locomover. Até hoje não sei exatamente o que ele tem, mas felizmente todos do colégio eram muito bons com ele e o tratavam como igual. Sempre o convidávamos pra sair, o acompanhávamos nos corredores e dávamos risada junto dele. O sofrimento de Melody por não ter amigos e ser sempre excluída é grande e nos sentimos no seu lugar.

Fora de mim é um livro que promove muita reflexão e lições. Um livro para aprendermos a amar o próximo e a respeitá-lo. Melody é uma protagonista extremamente forte e admirável que me deixou com vontade de saber tudo o que ela ainda conseguiria conquistar. Um livro que comove e que eu indico para todos!

Nota: 5


Sobre mim: Carolina Rodrigues, 23 anos, biomédica e autora do livro O Poder da Vingança. Adora dançar e ir pra praia, mas o que a faz realmente feliz é poder passar um dia inteiro lendo, vendo séries, escrevendo histórias ou ouvindo música.

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