O Silêncio das Águas

Título: O Silêncio das Águas
Título Original: The Silent Waters
Autora: Brittany C. Cherry
Série: Elementos - #3
Editora: Record
Ano: 2017
Páginas: 364
Tradução: Natalie Gerhardt
Livro: Skoob
Sinopse:

Quando a pequena Maggie May presencia uma cena terrível à margem de um rio, sua vida muda por completo. A menina alegre que vive saltitando de um lado para o outro e tem uma paixonite por Brooks Griffin, o melhor amigo de seu irmão, sofre um trauma tão grande que acaba perdendo a voz. Sem saber como lidar com o problema, sua família se vê em uma posição difícil e tenta procurar ajuda, mas nenhum tratamento vai adiante. Ao longo dos anos, Maggie aprende sozinha a conviver com os ataques de pânico e, sem conseguir sair de casa, encontra refúgio nos livros. A única pessoa capaz de compreendê-la é Brooks, que permanece sempre ao seu lado. A cumplicidade na infância se transforma em amizade na adolescência, até que um dia eles não conseguem mais negar o amor que sentem um pelo outro. Mas será que o forte sentimento que os une poderá resistir aos fantasmas do passado e a um acontecimento inesperado, que os forçará a navegar por caminhos diferentes?

Aos seis anos, Maggie May era uma garotinha feliz e tagarela. Sua mãe abandonara ela e seu pai logo após o nascimento, e desde então seu pai teve várias namoradas, até que conheceu Katie.

Quando se mudaram para a casa de Katie, seu pai disse que dessa vez era para sempre, e depois de conhecer seus meio-irmãos, Calvin e Cheryl, da mesma idade que ela, Maggie realmente queria que fosse para sempre.

Aos dez anos, Maggie já estava mais adaptada à nova família e dizia que ia se casar com Brooks, melhor amigo de Calvin. Brooks era apenas um garoto querendo fazer coisas de garoto, não escutar sobre noivado e escolha de gravatas, então ele odiava Maggie, ou ao menos achava que odiava seu sorriso, sua companhia saltitante e o fato de ela não parar de falar nem por um segundo. Até que Maggie o beija, e algo nele muda. De repente, o sorriso dela já não lhe parece tão feio.

Maggie estava tão convicta de seu casamento com Brooks que marca de se encontrar com ele no bosque para que enfim se casem. Chegando lá, depois de sair escondida de casa, ela sai à procura de Brooks, e é quando sua vida muda completamente.

Um evento trágico faz com que Maggie se cale.

A lembrança daqueles momentos faz com que Maggie não consiga mais sair de casa.

Às vezes, somos os nossos piores inimigos. Temos que aprender a discernir nossos pensamentos. Temos que ser capazes de distinguir a verdade e a mentira na nossa mente. Caso contrário, viramos escravos das correntes que nós mesmos colocamos em nossos tornozelos.

Todos entram em desespero. A família desmorona. Katie se culpa por ter tirado os olhos de Maggie. Brooks se culpa por ter se atrasado, querendo agradar Maggie ao escolher a gravata perfeita. Cheryl culpa Maggie por toda a atenção que a garota recebe, enquanto ela é deixada de lado.

Depois da tragédia vivida por Maggie, nunca mais as coisas seriam as mesmas para aquela família.

Brooks prometeu a Maggie sempre estar ao seu lado. Prometeu ser sua âncora, escutar seu silêncio. E ele cumpriu sua promessa, todos os dias.

E aqueles que acreditam em você quando nem mesmo você acredita mais são justamente aqueles que você precisa manter por perto.

Aos dezoito anos, Maggie seguia uma rotina bem estabelecida. Se deitava na cama com Brooks, escutando música, enquanto esperavam Calvin sair do banho para irem pra escola. Depois, Katie dava aula para ela, Maggie lia livros, e tomava chá com a senhora Boone, uma velha rabugenta que fazia questão de a visitar todos os dias, por mais que a conversa fosse mais um monólogo, já que a senhora não a deixava escrever no papel para se comunicar. No entanto, por mais que Maggie se irritasse com a senhora Boone, ela também a amava. Sabia que ela a provocava de propósito, para que Maggie reagisse e tomasse uma atitude.

Maggie sabia que nunca mais voltaria a falar ou sair de casa. Ela sabia que estava perdendo uma vida lá fora, repleta de oportunidades e de pessoas para conhecer, mas suas lembranças estavam ali, sempre presentes, a recordando do motivo porque não poderia sair, muito menos falar.

Ainda assim, Maggie havia encontrado sua forma de falar. Seja através da escrita no papel, ou na emoção em seu olhar. Seu pai parecia entendê-la sem que ela precisasse responder, assim com Brooks.

Eu não sabia que era possível ouvir tão claramente a voz de alguém no silêncio.

A melhor parte de seu dia era quando Brooks voltava da escola e conversava com ela por horas. Ela sabia o quão ele era disputado no colégio por seu carisma, além de ter namorada, mas era inevitável. Seu coração sempre pulsava mais forte quando ele estava por perto. Mas será que Brooks sentia o mesmo? Será que uma relação entre eles seria possível devido às condições de Maggie?

Apesar de Brooks melhorando seus dias, a relação em casa não era das melhores. Seus pais discutiam frequentemente, e Katie mal a encarava. Cheryl se tornou uma adolescente rebelde, namorando os tipos mais errados de caras só para chamar a atenção dos pais, além de tratar Maggie mal, chamando-a de aberração.

— E desde quando a gente se importa com o que as pessoas dizem?
— Desde sempre, Eric. A gente sempre se importa com o que as pessoas pensam de nós.

O refúgio que Maggie encontrava era nos livros. Seu pai trazia um livro novo a cada dia, e neles ela se perdia, vivendo tudo o que não podia viver de verdade. Dentro das páginas, ela possuía amigos e viajava pelo mundo inteiro. E com isso, ela criou uma lista de desejos de lugares que gostaria de visitar e coisas que gostaria de fazer. Brooks encontrou a lista e fez Maggie prometer que se um dia ela conseguisse sair de casa, a primeira coisa que ela faria seria correr para a casa dele no outro lado da rua para que eles realizassem juntos aquela lista inteira.

Será que um dia isso seria possível? Será que o amor seria capaz de enfraquecer os demônios que assombravam a mente de Maggie?

— Você não pode simplesmente ler esses livros e achar que está vivendo. É a história deles, não a sua, e é de partir o coração ver alguém tão jovem desperdiçar a chance de escrever a própria história.

A fama de Brittany C. Cherry já é bem conhecida. Relutei muito pra ler uma obra dela já que comecei a ler Sr. Daniels e me desanimei logo de início, então tinha medo da experiência se repetir com outro livro dela, e felizmente isso passou longe de acontecer.

O Silêncio das Águas é o terceiro volume da série Elementos da autora, e confesso que não li os volumes anteriores. As histórias são independentes, e resolvi arriscar direto na que me interessava mais. Essa foi a minha primeira leitura de 2018, e posso dizer que comecei o ano sofrendo bastante. Sabe quando você tenta não deixar a manteiga derretida em você vencer e luta o livro inteiro pra não chorar? Pois então, não funcionou. Lá fui eu, no primeiro dia no ano, chorando que nem idiota com a Maggie.

O livro já começa com uma nota mega importante da autora. Seu desabafo é tocante, e imagino que ela tenha precisado de muita coragem para recordar dias que a atormentaram e descrevê-los em páginas. Mas o que Brittany viveu, muitos outros viveram. Talvez não da mesma forma, talvez não pelo mesmo motivo, mas de algum jeito, todos temos monstros que nos transformaram. Me emocionei com suas palavras, e já me preparei pra uma história profunda e sensível.

Depois de anos sem falar, eu compreendia a importância das palavras. Como elas tinham o poder de ferir as pessoas, mas também de curar, se fossem usadas corretamente. Pelo resto da vida, eu tentaria usar as palavras com cuidado.
Elas tinham o poder de mudar vidas.

Maggie se tornou muda, impossibilitada de sair de casa, e sofria ataques de pânico. Alguns dias eram mais fáceis, mas nos que as sombras ainda a perseguiam, aí eram os dias mais complicados. E sua família e Brooks estavam lá, nos dias bons e nos ruins. Isso é o amor, não é? O verdadeiro amor. Compartilha os momentos de felicidade, passa pela tempestade junto. Acho que além da superação, essa é a mensagem mais bonita transmitida nas páginas. Será que Maggie iria tão longe sem o apoio e suporte da família? Não sei. Ela era forte, mas talvez não tivesse psicológico para tanto. Talvez os demônios vencessem a batalha. Existe uma infinidade de “se”, mas essa é a importância de estar do lado de quem ama. Ser a âncora deles, acreditar neles quando nem eles mesmos acreditam mais em si mesmos.

O Silêncio das Águas é um livro terno e ao mesmo tempo terrivelmente triste. Com uma escrita deliciosa, a leitura flui rápido, vamos devorando as páginas ansiando por mais, ansiando pelo final feliz tão desejado e merecido.

A história é dividida em três partes e narrado por Maggie e Brooks, embora 90% seja narrado por Maggie. A devoção de Brooks é encantadora, a amizade que eles construíram, o sentimento entre eles tão palpável e crível.

Amar alguém não significava estar junto só nos dias ensolarados. Significava permanecer ao lado da pessoa durante as noites de tempestade também.

Embora o foco do livro seja em Maggie, a história também retrata os dilemas individuais da família e a carreira de Brooks e Calvin com a banda que criaram chamada The Crooks, batizada pela própria Maggie. Brooks é um personagem extremamente humano e carismático, e mostra como mesmo ele, que sempre se manteve tão firme por Maggie, pode ter dias nublados. Achei perfeito o direcionamento pro final da autora, a forma como só quem passa por um evento traumático compreende como é simplesmente não conseguir liberar a voz, como é sentir o coração disparado quando pensa na hipótese de sair de casa.

Os temas tratados por Brittany são pesados, mas necessários. Vemos uma proporção cada vez maior de pessoas com síndrome do pânico ou sofrendo de ansiedade, e não é algo simplesmente “tratável”. Ignorantes dizem pra tomar vergonha na cara e sair logo de casa. Tenho dois amigos na situação e às vezes me vejo sem saber o que fazer, mas vejo também que sentar, escutar e apenas ser sua amiga é o bastante.

— Maggie May, você é a minha música favorita.

A resenha não chegou nem perto de tudo o que senti e pensei lendo esse livro, mas esse é o grande problema dos livros que a gente tanto gosta, são os mais difíceis de descrever. A única coisa que eu digo é: Leiam logo algum livro da Brittany C. Cherry! Não vão se arrepender. Mas se preparem também pra sofrer e viver um romance lindo.

Nota: 5


Sobre mim: Carolina Rodrigues, 22 anos, biomédica e autora do livro O Poder da Vingança. Adora dançar e ir pra praia, mas o que a faz realmente feliz é poder passar um dia inteiro lendo, vendo séries, escrevendo histórias ou ouvindo música.

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