Temporada de Acidentes

Título: Temporada de Acidentes
Título Original: The Accident Season
Autora: Moïra Fowley-Doyle
Editora: Intrínseca
Ano: 2016
Páginas: 256
Tradução: Amanda Moura
Livro: Skoob
Sinopse:

Guardem as facas, protejam as quinas dos móveis, não mexam com fogo.
A temporada de acidentes vai começar.
Acontece todo ano, na mesma época. Todo mês de outubro, inexplicavelmente, Cara e sua família se tornam vulneráveis a acidentes. Algumas vezes, são apenas cortes e arranhões. Em outras, acontecem coisas horríveis, como quando o pai e o tio dela morreram. A temporada de acidentes é um medo e uma obsessão. Faz parte da vida de Cara desde que ela se entende por gente. E esta promete ser uma das piores. No meio de tudo, ainda há segredos de família e verdades dolorosas, que Cara está prestes a descobrir. Neste outubro, ela vai se apaixonar perdidamente e mergulhar fundo na origem sombria da temporada de acidentes. Por que, afinal, sua família foi amaldiçoada? E por que não conseguem se livrar desse mal? Uma narrativa sombria, melancólica e intensa sobre uma família que precisa lidar com seus segredos e medos antes que eles a destruam.

Cara seria uma menina normal se não fosse pela Temporada de Acidentes. Uma vez por ano, sempre no mês de outubro, ela e sua família ganham hematomas, arranhões e cortes inexplicáveis, isso quando o pior não bate na porta de casa e ossos fraturam e deslocam. De acidentes ocasionais até atropelamentos e afogamentos; toda temporada é uma agonia. Depois de anos sofrendo daquele mal, eles aprenderam a se precaver, tomar devidos cuidados como saírem agasalhados da cabeça aos pés debaixo de um sol escaldante.

Por conta disso, Cara, Alice (sua irmã) e Sam (seu irmão postiço) não são bem vistos no colégio. Todos os acham esquisitos, e a amizade deles com Bea, uma garota rotulada de bruxa que mexe com cartas, não ajuda muito. Contradizendo as ordens da mãe e se recusando a colocar tanta roupa, Alice ainda é a única deles que anda com os populares, além de namorar um cara de uma banda.

O pai de Cara e Alice morreu quando elas eram novas, em uma das temporadas. Dois anos depois, a mãe delas conheceu Christopher, pai de Sam, e passaram um bom tempo juntos. No fim, o homem os abandonou sem explicações e muito menos um adeus, deixando Sam pra trás. Por sorte, Sam era um garoto calmo e alegre que acabou por crescer junto da família de Cara e logo se tornou seu melhor amigo.

Nesta temporada, as cartas de Bea contam que a situação é grave. Essa promete ser uma das piores temporadas.

Sinto como se as proteções espalhadas pelos móveis da casa fossem me sufocar, como se não houvesse ar suficiente para respirar. Tenho a impressão de que muita coisa não está sendo dita. Acho que minha família toda é assim: evitamos falar das coisas sobre as quais não podemos falar e cobrimos cada superfície para nos proteger do momento inevitável em que tudo virá à tona

Um dia, vasculhando as fotos do celular, Cara repara que Elsie, a garota que toma conta da caixa de segredos da escola e que fora sua amiga nos dias após a morte do pai de Cara e antes da vinda de Sam, aparece em absolutamente todas as fotos. É quase imperceptível, mas uma boa estudada nas imagens evidencia que uma parte de Elsie está presente em todas, seja seu cabelo castanho sem graça, ou a blusa, pequenos detalhes que remetem a ela. Cara tenta se convencer de que é apenas uma coincidência, mas como era possível se ela não tinha a visto em nenhuma das ocasiões? As duas se distanciaram bastante depois de Sam e Bea, e Cara se sentia culpada, então resolveu compartilhar a curiosidade com os amigos. Alice acredita que haja uma explicação plausível para isso, mas Sam e Bea concordam que é estranho, por isso resolvem procurar Elsie no dia seguinte e questionar.

Acontece que Elsie não está na caixa de segredos no dia seguinte, muito menos no próximo, e assim por diante. A menina sumiu, e tanto os professores quanto os alunos não recordam dela. Elsie era tão sozinha assim? Como Cara a abandonou desse jeito? Como nunca deu por falta dela? Será por isso que ela inventara a caixa, para que as pessoas compartilhassem seus segredos mais profundos e repulsivos como os que ela mesma tinha?

Entre ombros deslocados, joelhos rasgados, quedas de escadas e atropelamentos, os quatro amigos encontram uma casa abandonada e decidem dar uma festa de Halloween lá, ao mesmo tempo em que prosseguem à procura de Elsie.

Não há fantasmas, apenas a poeira à luz da lanterna, nossa respiração e o vento no silêncio, além do sentimento de que algo, ou muitas coisas, está nos observando. Então, no fim das contas, talvez realmente haja fantasmas aqui.

Porque não me contaram antes que esse livro é tão bom? Talvez vocês não vão achar tudo isso, mas acho que é questão de um gosto particular. Essa obra tem todos os elementos que eu amo: mistério, suspense, aflição, romance, amizade, segredos.

Eu considerava a proposta desse um livro um tanto absurda. Um mês repleto de membros fraturados? Quem sobrevive a isso? E porque eles sofriam dessa maldição?

Aos poucos, vamos compreendendo que há uma teia complexa e sombria de revelações e dor por trás da história. Com esses acidentes, a autora tinha várias aberturas a seguir, desde o sobrenatural, distopias, até algo pé no chão. E qual ela escolheu? Só direi que foi o caminho perfeito. Partindo de um princípio completamente inesperado, a autora conseguiu tratar também de assuntos significativos como estupro, homossexualismo, relações abusivas e traumas de uma maneira impressionante. Próximo ao desfecho, temos noção da verdade que assombra a família, mas não deixa de ser um baque quando tudo cai sobre eles.

A escrita da autora é dinâmica, nos faz entrar na história e vivenciar tudo bem de perto. Iniciei a leitura despretensiosamente e foi uma surpresa extremamente positiva encontrar de tudo em poucas páginas. Os personagens são singulares e intrigantes, me senti uma amiga de Bea sentada com os outros quando ela contava histórias sobre lobos e criaturas. Como diria o “sobre” da autora, ela gosta de vinho tinto e livros macabros, daqueles em que todo mundo morre, e também de chá e finais felizes. E, bom, Temporada de Acidentes é definitivamente isso. Só resta vocês descobrirem qual é o final que ela gosta mais, feliz ou o que todo mundo morre hahaha.

Então, brindemos à temporada de acidentes, ao rio que corre sob nossos pés, onde naufragamos nossas almas, aos hematomas e aos segredos, aos fantasmas no sótão, mais um brinde à estrada de água

Nota: 5

Sobre mim: Carolina Rodrigues, 21 anos, mora em Santos e cursa faculdade de Biomedicina. Adora dançar e ir pra praia, mas o que a faz realmente feliz é poder passar um dia inteiro lendo, vendo séries, escrevendo histórias ou ouvindo música.

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