Juntando os Pedaços

Título: Juntando os Pedaços
Título Original: Holding up the universe
Autora: Jennifer Niven
Editora: Seguinte
Ano: 2016
Páginas: 392
Tradução: Alessandra Esteche
Livro: Skoob
Sinopse:

Jack tem prosopagnosia, uma doença que o impede de reconhecer o rosto das pessoas. Quando ele olha para alguém, vê os olhos, o nariz, a boca… mas não consegue juntar todas as peças do quebra-cabeça para gravar na memória. Então ele usa marcas identificadoras, como o cabelo, a cor da pele, o jeito de andar e de se vestir, para tentar distinguir seus amigos e familiares. Mas ninguém sabe disso — até o dia em que ele encontra a Libby. Libby é nova na escola. Ela passou os últimos anos em casa, juntando os pedaços do seu coração depois da morte de sua mãe. A garota finalmente se sente pronta para voltar à vida normal, mas logo nos primeiros dias de aula é alvo de uma brincadeira cruel por causa de seu peso e vai parar na diretoria. Junto com Jack. Aos poucos essa dupla improvável se aproxima e, juntos, eles aprendem a enxergar um ao outro como ninguém antes tinha feito.

Depois de Por Lugares Incríveis, a Jennifer se tornou pra mim o tipo de autor que você quer ler até a lista do supermercado, então a minha alegria quando descobri sobre o lançamento de Juntando os pedaços foi grande.

O livro começa com uma nota da autora, esclarecendo o motivo por tê-lo escrito, e a influência que os leitores tiveram na decisão após o sucesso de Por lugares incríveis. Essa é uma das razões que dá vontade de pegar a Jennifer e colocá-la num potinho. Ela entende o leitor. Ela escuta os seus desabafos, ela os acolhe, ela escreve para eles.

A capa é linda, e quando conhecemos o significado dela com a história, se torna mais linda ainda.

Alguém gosta de você. Você é necessário. Você é amado.

Jack tem prosopagnosia, uma doença neurológica que o impede de reconhecer o rosto das pessoas, inclusive o próprio. Ele detecta partes aleatórias, como o nariz, boca, sardas, mas não consegue reunir a imagem em um rosto completo. Ele não consegue as enxergar de verdade. O método que ele usa para identificar alguém é através de características próprias, como uma pinta, o queixo pontudo, o cabelo claro, mas ainda assim é uma luta para Jack, principalmente em locais tumultuados.

Jack descobriu ter a doença aos 14 anos, e acredita que tenha sido resultado de uma queda do telhado aos 6 anos, mas ele não se lembra em que momento ele perdeu a capacidade de reconhecer rostos, ou se sempre foi assim. Sua família, seus amigos, ninguém sabe, e jamais poderiam saber. Jack sabe muito bem como o ensino médio funciona e o quanto seria julgado por sua deficiência. Não, ele tem uma reputação a zelar.

Ao contrário do que é de se esperar, Jack é um dos mais populares da escola. É bonito, esnobe, e namora Caroline Lushamp, praticamente a rainha da escola. Caroline costumava ser uma menina tímida, quieta e estranha, mas hoje era maldosa e metida. Jack e Caroline eram o tipo de casal eterno, que viviam terminando e retomando o namoro, e embora Jack estivesse cansado de quem Caroline havia se tornado, ele sabia que precisava dela. Ela era sua guia. Enquanto eles estivessem juntos, tudo estaria bem.

Seth e Kam são os melhores amigos de Jack, do tipo sacanas que tiram sarro de tudo. Um dia, eles resolvem jogar o Rodeio das Gordas, que consiste em agarrar forte alguma garota gorda, e quem conseguir segurar por mais tempo, ganha. Jack acha a brincadeira estúpida, mas sabe que os amigos não o deixariam em paz até que topasse jogar, então agarra Libby, a Adolescente Mais Gorda dos Estados Unidos.

Bom, um dia Libby já foi essa pessoa, mas hoje ela é apenas gorda, tendo perdido 136 quilos. O rótulo foi dado após ela ficar presa dentro de casa e precisar de um guindaste para retirá-la de lá. A notícia foi parar nos jornais, e muitos culpavam o pai de Libby por tê-la deixado chegar a tal ponto. Mas a culpa não era dele, nem um pouco. Ninguém sabia que Libby escondia comida debaixo da cama. Ninguém sabia que há pouco tempo sua mãe havia morrido por um aneurisma, de forma inesperada, e que o pai estava tendo de lidar com a morte da esposa e com o sofrimento da filha, que descontava na comida.

Depois que recebeu alta, Libby voltou para casa, começou a se consultar com Rachel, que se tornaria mais uma amiga do que uma psicóloga, e por anos estudou em casa. Agora, no primeiro dia do ensino médio, Libby estava preparada para voltar às aulas, ou ao menos era o que ela esperava. Depois de tanto tempo afastada, ela finalmente poderia construir uma página nova em sua vida, uma imagem diferente do que a que carregava aos 11 anos, de gorda balofa.

O primeiro dia não é nenhuma surpresa. Alguns de seus colegas cresceram, mas pelo jeito que a tratam após a reconhecerem, continuam os mesmos babacas preconceituosos. A única que se dirige com respeito a ela é Bailey, uma garota que sempre fora simpática com Libby, mas que a abandonara em sua fase mais crítica. No entanto, Libby não possui exatamente uma gama de amigos, então resolve dar mais uma chance à Bailey, que se mostra arrependida e realmente determinada a recompensar.

E então Jack Masselin a agarra.

Libby sente o pânico crescendo no peito. Ela não tinha batalhado tanto para um cara qualquer a humilhar de novo. Não mesmo!. Então Libby dá um soco em Jack.

E é aí que a história de nossos protagonistas juntos começa.

Libby e Jack são levados à diretoria e como punição vão ter que fazer serviço comunitário para a escola. Mais tarde, Libby encontra uma carta de Jack na mochila. Lá, ele pede desculpas, e conta sobre a sua doença.

Talvez Jack não seja tão babaca, afinal de contas.

— A gente não pode lutar as batalhas das outras pessoas, por mais que dê vontade.
Mas a gente pode correr atrás dos babacas que mexeram com elas.

Juntando os Pedaços retrata o típico ensino médio dos Estados Unidos que conhecemos. Os alunos populares tirando sarro dos gordos, dos baixos, dos tímidos, dos estranhos, de todos que eles considerarem que não merecem fazer parte de seu grupinho.

Achei arriscado a autora apostar no Jack como popular, visto esse cenário, mas ela conseguiu encaixar o Jack direitinho no meio daquela gente arrogante, e sabem porque? Jack sabia que ia ser zoado se descobrissem sua doença, então ele tomou uma postura superior, para esconder sua prosopagnosia. Dessa forma, ele poderia passar reto pelas pessoas que conhecia e ser xingado por ser metido, e não por não reconhecer quem estava parado na frente dele.

A relação com Libby coloca sua imagem em perigo, e não pela forma que vocês estão pensando. Não por ele andar com uma gorda, e sim por ele não se segurar e defendê-la sempre que alguém a insulta. Essas atitudes não são características do Jack que conhecem, mas em um ponto da história, ele para de se importar, afinal de contas, ela é a única que sabe que ele tem prosopagnosia, e ainda assim não o discrimina. Além disso, é a única que o faz se sentir em paz.

Libby, por outro lado, apesar dos constantes xingamentos sem fundamentos que recebe, é uma personagem extremamente forte. Ela teve muitos anos dentro de casa para pensar e perceber que ela era muito mais do que falavam. Ela era melhor, era inteligente, era batalhadora, e, como ela mesma diz em uma passagem, só as pessoas pequenas — pequenas por dentro — não aguentam o fato de alguém ser grande.

O livro pode se tornar um pouco repetitivo no quesito de peso, já que Libby fala diversas vezes sobre o fato de ser gorda e de como isso incomoda aos outros, mas é dessa forma que muitas pessoas devem se sentir, é isso o que passa em suas mentes, a repetição de O que há de errado comigo?, quando não existe nada, absolutamente nada errado.

Talvez, só talvez, todo esse pesadelo seja mais sobre Jack Masselin do que sobre mim. Talvez tudo isso tenha acontecido para dar uma lição a ele sobre como tratar os outros.

Além do peso e da doença de Jack, a obra também discute assuntos como homossexualidade em crianças, bullying, relações conturbadas dentro de casa, e sobre como a perda afeta a vida das pessoas. Além disso, o número de referências é enorme! Acreditam que os melhores amigos da Libby eram imaginários, e se chamavam Dean, Sam e Castiel? Alguém cof Jennifer cof é fã de Supernatural. Ela os cita várias vezes, e também fala de outros livros, músicas, até o Justin Timberlake aparece por lá. Amooooo livros com referências assim!

Em alguns pontos, Juntando os pedaços me lembrou um pouco Eleanor & Park, da Rainbow Rowell. Personagens conturbados que amadurecem juntos.

Apesar de todos os elogios, você deve estar se perguntando o porquê da minha nota. Sabe quando você fica com a sensação de que faltou algo? A obra é simplesmente maravilhosa, com assuntos pertinentes, mas algo na relação deles não me convenceu, muito provavelmente por conta da carta de Jack. Se ele não contara pra ninguém, porque contar justamente pra Libby, uma desconhecida? Só para justificar o seu pedido de desculpas? Pra mim não fez sentido.

Resumindo, Juntando os pedaços é uma leitura espetacular e super válida. Além de apresentar a prosopagnosia, uma doença pouco conhecida e infelizmente ainda sem cura, também mostra a realidade de muitas pessoas que sofrem bullying pelo jeito que são. Jack e Libby ajudaram a tornar a história maravilhosa, dois personagens que vestem uma máscara pro mundo exterior, e conseguem enxergar o interior um do outro.

Nota: 4

Sobre mim: Carolina Rodrigues, 21 anos, mora em Santos e cursa faculdade de Biomedicina. Adora dançar e ir pra praia, mas o que a faz realmente feliz é poder passar um dia inteiro lendo, vendo séries, escrevendo histórias ou ouvindo música.

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