Só por Hoje e para Sempre


Título Original: Só por hoje e para sempre - Diário do Recomeço
Autor: Renato Russo
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2015
Páginas: 168
Livro: Skoob
Sinopse:

Entre abril e maio de 1993, Renato Russo passou vinte e nove dias internado numa clínica de reabilitação para dependentes químicos no Rio de Janeiro. Durante esse período, o músico seguiu com total dedicação os Doze Passos, programa criado pelos fundadores dos Alcoólicos Anônimos, que incluía um diário e outros exercícios de escrita. É este material inédito que vem à tona depois de mais de vinte anos em Só por hoje e para sempre, graças ao desejo de Renato de ter sua obra publicada postumamente. Entremeando as memórias do líder da Legião Urbana com passagens de autoanálise e um olhar esperançoso para o futuro, este relato oferece a seus fãs, além de valioso documento histórico, um contato íntimo com o artista e um exemplo decisivo de superação.


Crédito: Oxique

Sempre precisei de um pouco de atenção, acho que não sei quem sou, só sei do que não gosto...

Eu fico tão perdida ao começar a escrever essa resenha, e lembrar de como me senti lendo... chega a doer.
Mais do que um diário, mais do que um diário de reabilitação, Só por hoje e para sempre conta, de certa maneira em suas curtas páginas, a história de vida do Renato, mais ainda do que o filme Somos tão Jovens poderia mostrar: é muito mais pessoal, nos mostra o lado humano de um ídolo, o que o torna uma pessoa palpável - com partes de luz e sombras.

Perdi vinte em vinte e nove amizades / Por conta de uma pedra em minhas mãos / Me embriaguei morrendo vinte e nove vezes / Estou aprendendo a viver sem você / Já que você não me quer mais.

Ambientado na Clínica de Reabilitação Vila Serena, no Rio de Janeiro, em 1993, temos em mãos o diário que Renato Russo escreveu quando passou 29 dias internado por conta de sua dependência química. Muito além do plano de tratamento que ele tinha que seguir, o Programa dos Doze Passos, o livro caminha entre biografia e autoajuda. Mas calma, não vamos já preparar as flechas para atirar ao ler a palavra "autoajuda".

Renato sofria sérios problemas pessoais que afetavam sua vida profissional; eram problemas psicológicos e emocionais que o fizeram mergulhar numa vida desregrada e cheia de vícios - principalmente de heroína. Tive aqui uma visão de uma pessoa solitária, que mesmo no meio de uma multidão, se sentia sozinha. Renato tinha necessidade de atenção e de ser amado, mas se cercou, em alguns momentos, de pessoas ruins que o ajudaram a ir cada vez mais fundo na depressão e nos vícios. Mesmo tendo pessoas boas em sua vida, parecia não ser o suficiente.

Só quero que ele seja feliz, porque ele merece. E aqui em Vila Serena estou aprendendo que tenho todo o direito de ser feliz também, sem me prender a fantasias e fugas que reforçam o quanto tenho me sentido insatisfeito com minha vida até agora.

Uma pessoa cheia de amor, emoções e pensamentos. Extremamente sensível, crítica (autocrítica, também), cheia de pensamentos que poderiam ser destrutivos. Também alguém extremamente excêntrico e inteligente, que em diversos pontos nos mostra como, em sua mente, acha que nunca vai encontrar alguém como ele, alguém que o entenda.

Por isso, quando digo que é um livro de autoajuda, é porque acompanhamos a evolução de Renato e podemos nos ver ali também: em atitudes que ele descreve, como ele era e como ele quer ser. E nos vemos nisso. Por mais que nem todos nós tenhamos passado pelo que ele passou (a dificuldade em se aceitar e ser aceito, o vício), acredito que há um motivo para a maioria das letras do Legião serem tão atemporais - e esse motivo é o Renato. Ele tem um dom de nos tocar, de acertar nossos corações e nossas vidas.

Passei vinte e nove meses num navio / E vinte e nove dias na prisão / E aos vinte e nove com o retorno de Saturno / Decidi começar a viver.

Enquanto lia o livro, me senti extremamente tocada. Parecia que algumas palavras ali eram destinadas a mim.

Mesmo para quem não é fã de Legião Urbana ou do próprio Renato, é um livro que eu recomendo, porque é um livro que nos faz pensar em nós mesmos e nas pessoas a nossa volta. As pessoas com quem nos relacionamentos. Nossas atitudes. Vi algumas críticas em relação ao livro, porque acho que as pessoas esperavam uma biografia que contasse a vida dele, e não é bem assim.

A Companhia da Letras fez um trabalho excepcional ao tentar manter o diário ao máximo, inclusive com fotos de algumas das fichas e a letra do próprio Renato. Então é como se espiássemos através do buraco da fechadura. Entrássemos pé ante pé em seu quarto para ler seu diário, onde ele expõe seus medos, frustrações e sonhos.

Quando você deixou de me amar/ Aprendi a perdoar/ E a pedir perdão.

É claro que eles tentaram ao máximo reproduzir, mas algumas partes pareciam somente jogadas. Por isso havia várias notas do editor explicando diversas coisinhas ao longo do livro. Mas a verdade é uma só: ficamos com aquele gostinho de quero mais. Quero conhecer mais dele.

Eu sempre fui muito fã do Legião, sempre me entristeci por não poder ir à um show e conhecê-lo, mas esse livro me deu um pouquinho do Renato que, alguém mais novo como eu, não poderia ter. (E com os XXX anos de Legião, fui à um show, e depois de ler esse livro, tudo o que eu digo é: lágrimas para encher a cantareira).

Dói, de verdade, ler esse livro, onde no final ele está melhor, pronto para ir embora, cheio de planos para o futuro e saber que ele morreu tão pouco tempo depois. O Renato jogou uma boa parte da vida dele no lixo, e ele sabe disso. E quando finalmente pôde começar a arrumar a bagunça, ele se foi. E ficamos com aquela sensação de como a vida é realmente frágil.

PS: Devo trabalhar uma tendência que tenho para o orgulho, arrogância e prepotência, definindo limites naturais. E creio que, ao aprender a gostar de mim mesmo, poderei gostar de outras pessoas e não terei os problemas que tive nos meus relacionamentos do passado, ou com minha sexualidade. Terei problemas, é certo, mas nada como na época da minha dependência. Serão os problemas normais, comuns a qualquer pessoa, e não a tragédia grega em Cinemascope que era a minha vida até chegar a Vila Serena.


E vinte e nove anjos me saudaram / E tive vinte e nove amigos outra vez.

Nota: 5 ♥



Sobre mim: Letícia Proença (Leeh), 21 anos, estudante de Medicina Veterinária em Botucatu, até hoje não sabe como leva a graduação e a paixão por sites e livros lado a lado. Canceriana louca, gostaria de saber como aumentar as horas do dia para poder fazer tudo o que gosta.

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